sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O ruído

Em algum lugar do espaço um explorador busca a fonte de um sinal. O estranho ruído deixou a expedição científica acordada a noite inteira, esperando o pesadelo que estaria por vir. Todos conheciam a lenda mas nenhum deles, do alto de seu posto científico, daria o braço a torcer para aquelas histórias populares. Cansados e com fome, usaram seus últimos dias de vida para isolar a base do ruído e assim conseguir ao menos descansar. A morte já cercava todos os membros da expedição com ou sem ruído. Não fosse a vaga esperança de resgate talvez não houvesse força de vontade para continuar respirando. A esperança era uma âncora que não deixava aqueles homens perderem-se. Mas um deles não se satisfez com aquela âncora. Era um veterano. O longo tempo de serviço no espaço moldou sua mente contra as ilusões humanas. "O espaço não perdoa", dizia. Ele sabia que nenhum resgate viria. De que valia ficar ali sentado esperando as tempestades de areia consumi-los. Decidiu partir, sozinho, rumo ao deserto desconhecido. Já que iria morrer queria ao menos ver a criatura de que tanto falavam. Ali estava a verdadeira exploração científica. Não mais guardar e analisar amostras de terra. Agora era a hora dos primeiros exploradores. A morte iminente o libertou para isso. Agora era a hora de dar ouvido as lendas, de buscar o inóspito, entende-lo, mesmo que para morrer na sequência. No seu capacete a câmera ligada pois queria que a sua expedição particular ficasse registrada e que o seus últimos dias de vida fossem úteis de alguma forma. Aquele registro ficaria lá enterrado no deserto para que um dia alguém o descobrisse.




Um comentário: